segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

[Parte 13] Clodovil, ops, Max Weber abre o jogo



Nao pode ser negado, Max Weber está certo: o Estado tem o monopólio sobre o uso legítimo da violência.


Antes de continuar, aqui vai mais uma citaçao:

"Quente é mil grau, o que o guerreiro diz
O promotor é só um homem, Deus é o juiz
Enquanto o zé-povinho apedrejava a cruz
E o canalha fardado cuspia em Jesus
Ó, aos quarenta e cinco do segundo, arrependido
Salvo e perdoado é Dimas, o bandido!"
(Racionais MCs, "Vida Loka parte 2")


Nao pode ser negado, a Bíblia comprova a teoria de Max Weber: quem jogou os amigos de Daniel na fogueirafoi a polícia; quem matou todas as crianças menores de dois anos na Judéia foi a polícia; quem prendeue surrou Paulo foi a polícia; quem matou Tiago à espada foi a polícia; os apóstolos foram presos pelaPolícia; e QUEM SURROU, CRUCIFICOU E MATOU JESUS FOI A POLÍCIA!

Mais nenhum comentário.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

[Parte 12] Paz! Paz! Paz!


Para deixar a festa completa, vou chamar mais um convidado: John Howard Yoder. Ele nao é O CARA, mas é um DOS CARAS"!

Ele foi aluno de Karl Barth, um dos teólogos mais influentes do século XX. Falarei mais sobre Yoder num outro post. No momento eu posso adiantar que Yoder, com seu fundo menonita, defendeu a teoria de que o universo do governo e o universo da Igreja sao completamente distintos e isolados, e nao podem se misturar. O governo combate o mal (violência) usando o mal (violência). A Igreja nao combate, mas confronta o mal com o bem. O papel da Igreja é ser uma testemunha da Verdade, deixando o "trabalho sujo" para o Estado. Para um cristao vale o Sermao da Montanha.


Com esse raciocínio a resposta sobre o comportamento de um cristao diante do serviço militar já fica automaticamente respondida, mesmo merecendo um post à parte.

Normalmente as pessoas que conhecem a obra de Yoder se concentram mais no seu pacifismo. Porém o pacifismo nao é um movimento ou um objetivo por si só, é apenas um resultado do entendimento de qual é a responsabilidade de um cristao nesse mundo. Sendo testemunhas do Evangelho e da Verdade, um cristao nao pode fazer justiça com as próprias maos, mesmo porque Deus nao quis fazer isso até agora, e nao somos nós que vamos fazer, por mais que haja vontade (da minha parte posso dizer que existe MUITA vontade!).

[Parte 11] O governo e a torre de Babel


Somente depois da parte 10 eu tenho a possibilidade de falar sobre a torre de Babel como sendo uma parábola sobre o governo entre outros.

A empreitada para construir a torre de Babel é um símbolo do esforço coletivo dos seres humanos para subjugar o domínio de Deus sobre o mundo, é um braço-de-ferro espiritual. O homem nao admite a submissao a Deus e a falta de controle; ele tenta criar algo que desafie o próprio Deus, toma nas próprias maos o alvo de evitar o espalhamento da populaçao por toda a terra; mais que isso, deseja construir uma torre que "vá até o céu". (Se alguém perceber alguma semelhança entre esse parágrafo e um capítulo do livro "Palavra de Deus, Palavra dos Homens" de Karl Barth, nao é mera coincidência.)

O mesmo acontece com os sistemas de poder. O ser humano nao é capaz de aceitar a liberdade de viver sua própria vida, de tomar decisoes por si só. Em nome da ordem, da organizaçao e do controle, o ser humano criou uma parafernália chamada Governo. Sem dúvida o Governo traz muita eficiência em alguns campos; por
causa do Governo nós temos sistemas de saúde, de transporte e de educaçao que, mesmo nao sendo perfeitos, oferecem uma opçao razoável ao caos que existia no passado. Podemos dizer que esses sao os pontos positivos do Governo.

Por outro lado, como já vimos na estória sobre Adolf Eichmann, o Governo é uma liderança, e portanto uma TÉCNICA; essa técnica tem o lado positivo e o lado negativo, sendo que um dos lados negativos é o poder da burocracia, da sistematizaçao. Indivíduos se tornam impotentes diante desse poder. Imagino que todo leitor já se sentiu dessa forma pelo menos uma vez na vida. Esse gigante nao pode ser vencido por meros mortais como nós.

O Governo é a torre de Babel moderna. Esse sistema é gigantesco, complexo e evita o caos - ao mesmo tempo em que abandona vários preceitos de Deus e causam muito transtorno para o homem. Nao é à toa que o próprio Satanás resolveu se juntar a essa galera e assumiu o posto de presidente executivo!

[Parte 10] Com vocês: Max Weber! (ou "A Natureza do Governo")

Agora o papo começa a ficar bom.

A tentaçao de Jesus no deserto (Mateus 4) é bastante famosa. Nesse relato há uma pista sobre a verdadeira natureza do governo.

Numa das tentaçoes, Satanás oferece "todos os reinos do mundo, e a glória deles". Ele diz "reinos". Ele diz "todos". Nao há como entender essa passagem de outra forma. Satanás POSSUI todos os reinos, junto com a glória que os segue. A grandeza dos governos, dos poderes humanos, tudo isso está debaixo do poder de Satanás. Com olhos humanos nós vemos apenas estruturas sociais e políticas criadas por seres humanos como nós; com olhos espirituais, nós vemos um sistema demoníaco que desafia o poder de Deus sobre o mundo.

Agora está na hora de apresentar mais um amigo: Max Weber. Weber é considerado o pai da sociologia moderna. Ele escreveu alguns livros bastante interessantes e famosos. Eu vou me ater a uma pequeno trecho escrito por ele, um texto-chave para se entender o Estado à luz do cristianismo.

1) a definiçao verdadeira de "Estado" ou "Governo" nao é a "entidade que organiza a sociedade", mas sim a "entidade que possui o monopólio sobre o uso legítimo de violência". Por definiçao existe uma conexao direta entre o Estado e a violência. O Estado impoe e mantém a ordem à força.

"Hoje porém nós vamos ter que dizer: o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de uma área definida - essa »área« faz parte das características marcantes -, assume para si (com sucesso) o monopólio da violência física legítima. Pois o seguinte é característico do tempo atual: que todas as outras associaçoes ou indivíduos prescrevem para si mesmos o direito ao uso de violência física somente até o ponto em que o Estado, por sua parte, assim o permite. Ele é a única fonte do »direito« ao uso de violência.

»Política« significaria entao para nós: a luta por participaçao no poder ou por influência sobre a distribuiçao de poder, seja entre Estados, seja entre grupos de pessoas dentro de um Estado que os envolve."

("Politik als Beruf" ou "Política como Vocaçao", 1919)

2) o Estado (ou melhor dizendo, cada pessoa que o compoe) nao pode ser cristao no sentido do Sermao da Montanha, porque Jesus condena o uso da violência mesmo quando ela é usada contra nós. A ética do cristianismo nao pode ser usada por aqueles que exercem poder político, pois a política e o cristianismo se contradizem, andam em sentidos opostos. Max Weber diz o seguinte a respeito da discussao em torno da "ética na política":

"»Pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão«, e luta é luta em qualquer lugar. Pois bem: a ética do Sermao da Montanha? Com o Sermao da Montanha - quero dizer, a ética absoluta do Evangelho - a coisa é mais séria do que acreditam aqueles que repetem esse mandamento hoje em dia. Com ela nao se brinca. (...) É assim: é preciso ser um santo em tudo, ou pelo menos ter a vontade de ser; é preciso viver como Jesus, os apóstolos, Sao Francisco e similares; aí sim essa ética faz sentido e expressa honra e valor. Caso contrário, nao. Quando, em conseqüência da ética alienada do amor, essa ética diz: »nao resistir ao mal com violência«, para o político vale a frase oposta: você deve resistir ao mal com violência - se nao, você é responsável caso ele prevalesça."

O Diabo vem "para roubar, matar e destruir". É isso que o Estado faz em nome "da ordem e da segurança da populaçao". O governo usa a violência para combater a violência, ou seja, o mal combate o próprio mal. (A propósito: a frase "SÓ O MAL PODE COMBATER OUTRO MAL" é de Jean-Paul Sartre e merece outro post!)

O mal é inerente ao Estado. Nao interessa se esse Estado se auto-denomina "justo", "democrático" ou "moderno", se ele combate crises econômicas, o analfabetismo, a corrupçao ou o terrorismo. Pelo fato de ser Estado ele é ímpio por natureza. Quando esse Estado inicia guerras, quando ele é dominado por pessoas corruptas, quando ele se torna totalitário, quando ele deixa de cuidar das necessidades básicas da populaçao, ele simplesmente está provocando o mal que faz parte da sua própria natureza. Quando as mulheres e crianças se tornam vítimas, como é o caso dos palestinos durante as açoes do exército israelense nesse início de 2009, ou quando um país é abandonado à hiperinflaçao e à morte através da cólera por causa da mera luta pelo poder, como é a realidade atual no Zimbabwe, quando as crianças sao bombardeadas com napalm, como na guerra do Vietna, ou quando os judeus e outros "indesejáveis" vao parar no forno de um campo de concentraçao, como na Segunda Guerra Mundial, nao é mais do que natural. Essa é a maneira como o Estado mostra as suas garras.

Romanos 13 é um trecho bíblico bastante distorcido. Ele vai precisar de um post extra. Só posso adiantar que uma interpretaçao literal dessa passagem traz consigo enormes contradiçoes diante dos Evangelhos e do restante da Bíblia. Acreditar que a obediência a um governo mau é a vontade de Deus faz os amigos de Daniel se revirarem na cova e, como diz o Mano Brow, "Adolf Hitler sorrir no inferno"!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

[Parte 9] "Propaganda" ou "Hipnose social"

Acho que ninguém gosta da idéia de ser hipnotizado contra a própria vontade. E eu imagino que parece exagerado dizer que tal coisa seja possível. Mas infelizmente é a verdade. Essa hipnose é tao poderosa e tao eficiente que é praticamente impossível livrar-se dela. Essa técnica de hipnose se chama PROPAGANDA.

A propaganda é a técnica usada pelos poderes para impôr a sua maneira de ver a sociedade, o seu comportamento e até mesmo o que deve ser consumido.

Nao é brincadeira nem exagero. Essa técnica foi especialmente desenvolvida no século XX. Aqui eu apresento o segundo parágrafo de uma das "bíblias" da propaganda, escrita pelo "Pai das Relaçoes Públicas", Edward Bernays:

"Nós somos governados, nossas mentes sao moldadas, nossos gostos sao formados e nossas idéias sao sugeridas, em geral, por homens dos quais nós nunca ouvimos falar. Esse é o resultado lógico da maneira como nossa sociedade democrática é organizada. Vastos números de seres humanos precisam cooperar dessa maneira para que nós possamos viver juntos como uma sociedade que funcione harmoniosamente."

Em nome de uma sociedade "organizada" os líderes se colocam na posiçao de "paizinhos conscientes e preocupados". Eles sao os heróis que trabalham enquanto nós dormimos, cuidando para que tudo funcionasse suavemente. Para isso, nossa mentalidade precisa ser educada por eles.

[Parte 8] O "efeito Eichmann"


Antes de ler esse post, eu recomendo que você leia, no mínimo, o que o Wikipedia tem a dizer sobre Hannah Arendt e Adolf Eichmann.

Hannah Arendt, ela mesma judia, causou um escândalo e foi até mesmo excomungada da comunidade judaica por causa do que escreveu no livro "Eichmann em Jerusalem". Adolf Eichmann, considerado o "arquiteto do Holocausto", foi sequestrado pelo serviço secreto israelense na Argentina e levado para Israel, onde foi julgado e executado.

O escândalo do livro tem a ver com a afirmaçao de que os judeus colaboraram com a própria deportaçao durante o nazismo e nao ofereceu qualquer resistência, contribuindo assim para o Holocausto.

Por outro lado, um dos termos marcantes no livro é a chamada "banalidade do mal". Diferente do que se imagina, ou do que a História tenta nos fazer pensar, os nazistas nao eram uma encarnaçao do demônio. Um dos exemplos mais perfeitos é Adolf Eichmann, uma pessoa que, segundo Arendt, mostrou durante o julgamento o seu caráter extremamente comum, medíocre, alguém que só possuiu algum tipo de "brilhantismo" por se dedicar ao aperfeiçoamento de uma parafernália de guerra. A ambiçao de Eichmann em busca de fugir da mediocridade o levou a fazer "um trabalho bem feito", sem consideraçao ao que estava causando às vítimas.

Mesmo que seja difícil de acreditar, Eichmann afirmou o tempo todo que nao tinha qualquer sentimento negativo contra os judeus. Ele mesmo dizia ter lido "O Estado Judeu", de Theodor Herzl (que pode ser chamado de manifesto sionista) e acreditava que o sionismo era algo positivo. Porém, por causa do estado de guerra, Eichmann se sentiu obrigado a "obedecer ordens" e tratar os judeus como inimigos e prisioneiros.

Você deve estar pensando: qual a ligaçao entre Eichmann, Arendt e o tema liderança?

Liderança traz consigo palavras-chave como Organizaçao, Estrutura e Objetivo. O Líder nao passa de um símbolo, um ícone dessa Estrutura, alguém que encorpa a alma da instituiçao. No dia-a-dia o líder nao precisa estar presente, desde que a ideologia esteja bem impregnada nos seguidores e estes estejam determinados a se submeter à Organizaçao. Pois bem: essa era a vida de Eichmann.

Foi exatamente sua entrega à Organizaçao, à Estrutura e aos Objetivos que o tornaram cego diante da realidade. A burocracia, em nome da ordem e da eficiência, elimina o raciocínio e o julgamento próprio; ela é inflexível, e essa inflexibilidade toma conta do caráter dos burocratas. Nada disso acontece de uma só vez, caso contrário o burocrata perceberia o problema e destruiria a estrutura, ou pelo menos se negaria a sustentá-la. Mas a sutileza da burocracia se esconde no processo de APERFEIÇOAMENTO, que acontece muito lentamente. No início Eichmann estava apenas ajudando os judeus a abandonarem um país hostil, sendo que muitos deles estavam partindo para a terra prometida (Palestina). Era quase como um favor a um povo que ele quase admirava. Quando essas deportaçoes passaram a significar a MORTE dos judeus, era tarde demais, e o próprio Eichmann passou a se justificar, acreditando que uma morte rápida seria melhor do que alguma outra opçao qualquer.

Antes que você interprete o texto da forma errada, afirmo desde já: Eichmann nao foi de forma nenhuma inocente. Eu quero somente dizer que o erro básico de Eichmann, como o de milhoes de pessoas durante a História, foi entregar-se de corpo e alma a uma organizaçao em vez de cultivar a sua individualidade e tomar decisoes próprias, conscientes e CORRETAS. As estruturas de liderança simplesmente multiplicam e magnificam as açoes dos indivíduos que a compoem, sejam para o bem, sejam para o mal.

Analisando a questao por um aspecto ligeiramente diferente, há outro nome que eu posso citar: Alfred Adler. Uma das afirmaçoes que me marcou foi quando Adler identificou o oposto do amor nao como sendo o ódio, mas sim a INDIFERENÇA.

O nazismo foi marcado pela INDIFERENÇA com que o ser humano foi tratado: castigado e morto comos meros animais, ou pior. As estruturas de liderança nao permitem a existência de amor, pois o amor só pode ser demonstrado entre indivíduos, particularmente, e nao através de organizaçoes. O objetivo de uma instituiçao nao é amar, mas sim atingir objetivos materiais concretos e de forma EFETIVA - um universo totalmente separado do universo do amor.

[Parte 7] A montanha russa e a primeira definiçao de Liderança

A partir daí nós temos uma verdadeira farra do boi: um rei se submetia a Deus, o outro nao, o outro sim, o outro nao, e assim por diante... Israel virou uma montanha russa social e espiritual. Num certo momento Deus diz "basta" e o povo todo é levado para a Babilônia. Depois o povo volta.

Aqui é o momento certo para questionar o conceito da liderança em si. Durante todo esse período em que os reis existiram em Israel, nós vemos períodos de progresso e de crise. Basta analisarmos esse quadro com um mínimo de lógica para perceber que a fonte de sucesso NAO É a liderança. Podemos dizer mais: a liderança pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal.

Existem outras coisas nesse mundo que também podem ser usadas para o bem e para o mal. Pense no raio-X. A descoberta dele foi um grande avanço para a ciência, especialmente para a medicina. O mesmo pode ser dito sobre a radioatividade, pois com ela podemos gerar energia sem queimar milhoes de toneladas de carvao nem represar outras dezenas de rios pelo mundo; por outro lado, essa mesma radioatividade causou catástrofes terríveis, como as bombas atômicas sobre o Japao, a Guerra Fria (indiretamente) e o acidente em Chernobyl. Há muitas outras coisas que podem ser comparadas da mesma forma, como por exemplo o aviao ou o automóvel.

Resumindo, todos esses produtos podem ser agrupados num só termo: TECNOLOGIA. Existe uma palavra ainda melhor: TÉCNICA. A técnica é a HABILIDADE que permite ao homem usar ferramentas e matéria-prima para produzir aquilo que ele deseja, seja para o bem, seja para o mal.

A LIDERANÇA TAMBÉM É UMA TÉCNICA. É a técnica de utilizar SERES HUMANOS para obter resultados, da mesma forma que usamos ferramentas e/ou matérias-primas para criar produtos ou serviços. É muito importante guardar esse conceito, especialmente quando tratarmos da liderança dentro das igrejas.

A liderança nao é mais do que uma técnica. O povo de Israel nao entendeu isso, acreditando que a liderança de um rei era boa POR SI SÓ, que era um passo à frente. A realidade mostrou que nao. Além de nao ter havido qualquer melhoria concreta, o povo foi obrigado a carregar o peso de sustentar toda a estrutura da monarquia por séculos.

[Parte 6] Davi - ou "plano B"


Como era de se esperar, a coisa ficou feia. O tal do rei começou bem, mas depois foi ladeira abaixo.

Deus teve paciência mas resolveu intervir. Já que o povo nao soube escolher um rei, Ele mesmo escolheu um substituto, alguém "segundo o coraçao Dele".

É interessante pensar na escolha de Deus. Há muitas teorias sobre a idade e a estatura de Davi. A Bíblia deixa claro que ele era o último filho a ser considerado na família, a ponto de o próprio pai se esquecer dele quando o profeta veio visitá-los. Aqui existe um ponto extremamente importante: Deus nao escolheu a pessoa mais capaz para se tornar líder, muito pelo contrário - Ele escolheu o MENOR e MENOS CAPAZ, aquele que NAO SERIA LÍDER. Davi foi usado por Deus para que Deus liderasse o povo novamente, e para isso Deus escolheu alguém que agisse da maneira que Ele queria, com atitudes iguais à DELE.

Espiritualmente pode-se dizer que Davi somente OCUPOU a posiçao de rei como uma marionete, e que DEUS foi o verdadeiro rei enquanto Davi viveu. Nao vemos Davi buscando a orientaçao de Deus para tomar suas decisoes, até mesmo quando fugia de Saul? E nao vemos Davi sendo castigado quando agiu por conta própria, como no caso do censo? Que mais poderíamos deduzir a respeito?

Eu nao vou entrar em detalhes sobre a vida de Davi no momento, pois as características pessoais de um líder sao um tema para outro post.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

[Parte 5] Degringolando


Voltamos à nossa arqueologia da liderança. Saul agora é rei e consegue inicialmente algumas vitórias, trazendo uma lua-de-mel entre ele e o povo. Foi bom enquanto durou. Depois disso Saul começa a mostrar suas garras, como todo líder.

Na época dos juízes, todo juiz tinha a consciência de nao ter nenhum poder nas suas maos. O juiz estava lá para julgar os casos entre o povo, e em situaçoes especiais recebia ordens de Deus para levar o povo a tal e tal lugar, ou para fazer isso ou aquilo. Juízes nao se iludiam.

Saul se iludiu. Como todo líder, ele viu seu poder se solidificando e achou que era mérito próprio. Ele se esqueceu que existia alguém acima dele: DEUS. A estória da queda de Saul acompanha a estória da sua rebeldia contra Deus. Saul nao conseguia reconhecer que Deus ainda tinha todo o poder, e nao ele. O rei chega a extremos, por exemplo no dia em qua vai consultar uma médium para saber sobre o seu futuro.

Essa é a natureza da liderança humana. Nao existe nenhum "santo" capaz de assumir liderança e nao ser tentado por ela. A liderança é em si pecaminosa. Todo líder coloca-se no trono de Deus diante dos seus seguidores - esse é um fato inevitável.

Finalmente Deus diz "basta!" e aí começa a estória de um tal de Davi.

Primeiras impressoes


Como já disse Henry David Thoreau:

"O povo precisa dispor de uma ou outra máquina complicada e barulhenta para preencher a sua concepção de governo."

e

"O governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício conveniente; mas a maioria dos governos é por vezes uma inconveniência, e todo o governo algum dia acaba por ser inconveniente."

Nesse ponto nós podemos fazer uma curta pausa para rever algumas características da liderança:

  • o poder nao foi planejado para ser possuído por seres humanos
  • governos humanos sao, por natureza, indignos, e nao devem ser reconhecidos
  • o homem poderia manter sua liberdade, mas prefere sacrificar a liberdade para seguir alguém (este é um tema bastante interessante - num futuro distante falaremos sobre Erich Fromm e também sobre a filosofia do existencialismo com relaçao aos conflitos que a liberdade produz)
  • aparências têm um papel fundamental no surgimento de um líder
  • a idolatria é inerente ao caráter daquele que deseja seguir o líder

[Parte 4] "Aparências, nada mais..."


"... sustentaram nossas vidas..."

Essa era do Gilliard, lembram?

Falando em Gilliard, vamos fazer um exercício mental. Imagine-se sendo surpreendido em algum lugar público diante de alguma pessoa famosa, seja um artista, um político ou um jogador de futebol. Qual seria a sua reaçao?

Algumas pessoas ficam surpresas e inseguras, sem saber como agir (e talvez passar vergonha). Outras se tornam histéricas, correm em busca de um autógrafo; outras, por causa da inveja, se afastam.

Eu posso quase garantir que a única reaçao que nao vai existir diante das pessoas ao redor é a INDIFERENÇA. Afinal de contas a pessoa é FAMOSA, e nao é comum encontrar uma pessoa ESPECIAL como essa todos os dias.

Vamos agora voltar ao tema liderança. O que esse exercício mental tem a ver com a estória?
O ser humano costuma, mesmo que inconscientemente, dividir-se em classes, em castas, em níveis sociais ou qualquer que seja a classificaçao. Raramente alguém enxerga todos os seres humanos como iguais.

Mas se todos os seres humanos sao igualmente humanos diante de Deus, por que existe essa classificaçao?

Uma das respostas (o leitor pode encontrar outras, com certeza): a APARÊNCIA. O ditado diz: "A primeira impressao é a que fica." É um processo que eu nunca pesquisei, mas que eu reconheço claramente. Julgar pela aparência é um processo psicológico que dura uma fraçao de segundo, mas é capaz de analisar a postura, o vestuário, o tamanho, o ar e o comportamento de uma pessoa, e com isso a classificaçao está pronta.

O julgamento vale tanto para o lado positivo quanto para o negativo. Algumas pessoas sao discriminadas ou olhadas com desprezo por causa da aparência; outras provocam em nós admiraçao, ao mesmo tempo em que sentimos desprezo por nós mesmos!

Quando Israel decidiu escolher um rei, esse fenômeno se repetiu. Nao bastava haver um rei humano (essa nao foi a raiz do pecado de Israel). Os homens queriam alguém MELHOR QUE ELES; mais que isso, eles queriam O MELHOR DELES como rei. Nao é por coincidência que o rei escolhido, Saul, é muito mais alto que o restante do povo e costumava aparecer na multidao do ombro para cima!

A liderança é uma escravidao auto-imposta pelo próprio povo por causa da sua natureza idólatra.

domingo, 11 de janeiro de 2009

[Parte 3] Vida longa para o rei (e para os problemas)!


Enfim chegamos a 1 Samuel 8. Uma época chega ao fim quando Samuel decide se aposentar e coloca seus filhos como juízes sobre Israel. O povo nao gostou nada da idéia, pois os rapazes eram corruptos. Essa foi uma ótima desculpa para realizar um velho sonho:

"Eis que já estás velho, e teus filhos não andam nos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei para nos julgar, como o têm todas as nações."

Ah, se inveja matasse...

Os outros povos tinham reis, Israel nao. Por quê? O motivo é óbvio, Deus nao queria assim. Mas qual era o problema em ter um rei? Por outro lado, qual era a diferença entre um rei e um juiz?

A diferença é tremenda! Os juízes nao foram projetados para possuir PODER. Eles iam de tribo em tribo para julgar os conflitos entre o povo. Como explicado no post anterior, só os casos mais complicados chegavam às maos dos juízes. Na prática, todo o poder estava nas maos de Deus, ou seja, tínhamos ali uma teocracia.

No caso de um rei, a coisa muda de figura. Um rei representa TODO O PODER. Ele tem o direito de criar, executar e julgar as leis - sendo assim, o rei de Israel assumiria o poder dos juízes MAIS O DO PRÓPRIO DEUS!!! E é exatamente isso o que Deus explica a Samuel quando este último vai chorar as pitangas, sentindo-se rejeitado pelo povo:

"Disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não é a ti que têm rejeitado, porém a mim, para que eu não reine sobre eles. Conforme todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até o dia de hoje, deixando-me a mim e servindo a outros deuses, assim também fazem a ti."

Mais claro que isso, impossível - nao? Deus sabia que Israel desejava passar o poder para as maos de um ser humano. Essa tendência idólatra está dentro da nossa natureza humana. O homem nao consegue digerir a idéia de seguir, a longo prazo, algo que ele nao pode ver; Israel nao foi exceçao. Depois de ter contato com outros povos e ver a pompa e a majestade ao redor daqueles reis, Israel teve inveja e quis ter algo igual. E convenhamos, tendo a oportunidade de ver um legítimo rei, a riqueza e a pompa enche os olhos de qualquer um!

Pois bem, esse é um dos momentos em que Deus mostra claramente o tamanho da Sua tolerância e paciência. Ele nao concorda de forma nenhuma com essa sugestao, e Ele poderia simplesmente ter negado o rei ao povo, e ainda por cima ter mandado lepra ou fogo do céu para queimar o autor da sugestao. Porém Deus nao faz isso. Ele entende que o povo ainda nao tinha a capacidade de entender o porquê da idéia ser tao ruim. Por isso Ele decide que o povo deveria receber o que quer e sofrer as conseqüências.

"Este será o modo de agir do rei que houver de reinar sobre vós: tomará os vossos filhos, e os porá sobre os seus carros, e para serem seus cavaleiros, e para correrem adiante dos seus carros; e os porá por chefes de mil e chefes de cinqüenta, para lavrarem os seus campos, fazerem as suas colheitas e fabricarem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomará o melhor das vossas terras, das vossas vinhas e dos vossos elivais, e o dará aos seus servos. Tomará e dízimo das vossas sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus servos. Também os vossos servos e as vossas servas, e os vossos melhores mancebos, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Tomará o dízimo do vosso rebanho; e vós lhe servireis de escravos. Então naquele dia clamareis por causa de vosso rei, que vós mesmos houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvira."

Deus deixou claro que um governo humano é uma verdadeira maldiçao. Os súditos se tornam escravos do governo. E nao faz a menor diferença se o sistema de governo é monarquista, presidencialista, parlamentarista, feudalista, capitalista, comunista ou maoísta, porque todos esses sistemas têm a mesma base: um ou mais seres humanos dividem o poder sobre todos os demais seres humanos. Isso NUNCA pode terminar bem.

[Parte 2] Anarquia?

Antes de visitarmos 1 Samuel 8 e o nascimento do primeiro governo da história de Israel, vamos voltar um pouco no tempo, para o período dos juízes.

Na época dos juízes nao havia um governo como conhecemos hoje. O povo de Israel era dividido em tribos e famílias, ou seja, em pequenos grupos. Uma das passagens do livro de Juízes exemplifica a realidade política daquele tempo:

"Nesse mesmo tempo os filhos de Israel partiram dali, cada um para a sua tribo e para a sua família; assim voltaram cada um para a sua herança. Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos. " (Juízes 21:24-25)

Cada um fazia o que queria?

Sim, cada um fazia o que queria! Nao havia um governo centralizado nem qualquer outra instituiçao que supervisionasse os indivíduos, a nao ser O PRÓPRIO DEUS! Deus era o governo, e esse tipo de governo era mais que suficiente para o povo. Quando havia conflitos, eles podiam ser julgados dentro das próprias tribos, famílias ou grupo de famílias; em casos mais extremos, o juiz era responsável por resolver a questao. O juiz era um homem escolhido dentre o povo para assumir o papel ao qual nós damos hoje o nome de Poder Judiciário. Esse juiz nao estava lá para criar leis (já que as leis foram dadas diretamente por Deus) e nem para executá-las (pois no caso de ordens gerais para todo o povo, elas vinham diretamente de Deus).

A vida nao era perfeita, mas funcionava razoavelmente bem, como ainda é o caso dos tempos modernos. As pessoas tinham a liberdade de decidir o que fazer, sem que nenhuma autoridade o impusesse fazer isso ou deixar de fazer aquilo. Nao podemos falar sobre burocracia nessa época.

Essa era a realidade antes do surgimento do primeiro rei: cada um era dono do próprio nariz.

sábado, 10 de janeiro de 2009

[Parte 1] O que a Bíblia tem a dizer sobre liderança?


A Bíblia é uma fonte de inspiraçao para os autores que lidam com o tema Liderança. Os "grandes homens" da Bíblia sao observados a partir da perspectiva de líderes, e daí sao analisados nos mínimos detalhes de caráter e atitudes, na busca de novas teorias - e novos livros para as prateleiras.

Porém, olhando atentamente para as personagens bíblicas, será que podemos ver nelas verdadeiros líderes?

Tomemos Gideao como exemplo. Um pouco covardezinho, nao? Para cumprir a tarefa dada por Deus ele engatinhou até o local do altar pagao para destrui-lo, e foi se esconder imediatamente. Se nao houvesse alguém para protegê-lo da multidao que queria matá-lo, seria uma vez um herói chamado Gideao!

E o que dizer de Moisés, quando seus ajudantes vieram alertá-lo acerca de dois homens que passaram a profetizar no meio do povo? Moisés nao sentiu qualquer inveja, e respondeu: "quem dera se todo o povo profetizasse, recebendo o espírito de Deus!" É a atitude de alguém que pensa estar centralizando todo o poder em torno de si?

Porém o relato mais claro do Antigo Testamento a respeito da liderança dentro do povo vem de 1 Samuel 8, quando o povo pede um rei.

Um pouco cedo para isso, mas...

"Wir sagen natürlich, die Bullen sind Schweine.
Wir sagen, der Typ in Uniform ist ein Schwein, kein Mensch.
Und so haben wir uns mit ihnen auseinanderzusetzen.
Das heißt, wir haben nicht mit ihm zu reden, und es ist falsch, überhaupt mit diesen Leuten zu reden.
Und natürlich kann geschossen werden."

"Nós dizemos claramente, os gambés sao porcos.
Nós dizemos, o cara de uniforme é um porco, nao é gente.
E é assim que devemos lidar com eles.
Isso quer dizer, nós nao devemos falar com eles e é errado sequer falar com essa gente.
E é claro que podem levar tiro."

(Ulrike Meinhof, jornalista e membro da R.A.F., grupo terrorista alemao da década de 70)


Um fundamento teológico e sociológico para esse texto, obviamente com exceçao da última sentença, virá durante o desenvolvimento do blog.

Ano novo, guerra nova...


Embora os conflitos em Israel sempre atraiam a minha atençao (e a minha indignaçao), esse nao é o motivo pelo qual eu decidi (re)iniciar meu blog.

Durante cerca de três anos eu estive lendo dezenas de livros e buscando respostas para as minhas várias perguntas. Muitas delas tinham a ver com a posiçao que um cristao deveria tomar com respeito ao mundo como ele é, diante da sociedade como ela funciona, especialmente diante dos conflitos.

Uma frase do famoso Capitao Nascimento no filme "Tropa de Elite" foi um tapa na minha cara (e deveria ser um tapa na cara de qualquer um que tem a pretensao de se chamar cristao): "Nesta cidade, todo policial tem de escolher: ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra." Se há injustiça nesse mundo, um cristao tem exatamente a mesma escolha.

Um dos primeiros passos é entender que, numa guerra entre dois países, nem todos os indivíduos de um país odeiam os indivíduos do outro país, e vice-versa. Em muitos casos eles nêm sequer têm contato direto. Deduz-se que um país nao representa a totalidade dos seus cidadaos. Mas se é assim, porque a guerra se inicia mesmo assim? Quem está por trás dela, entao?

Eu vou voltar a esse assunto mais para frente, talvez BEM mais para frente. Porém gostaria de adiantar um pouco o raciocínio e identificar que a concentraçao de poder é uma das colunas da estrutura que permite o surgimento de guerras.

Obviamente as guerras só existem por causa da natureza humana, é certo, mas unir a natureza de milhares de humanos de forma a produzir a destruiçao que vemos exige uma gigantesca estrutura e organizaçao, senao ainda estaríamos testemunhando guerras "de paus e pedras". Muitos religiosos se apressam em jogar a culpa da guerra sobre a natureza humana e com isso lavar as próprias maos, jogando toda a responsabilidade nas maos de Deus. Isso é OMISSAO.

Se há tal estrutura, e se ela é humana, entao ela pode ser combatida e eventualmente destruída. E se há essa opçao, a responsabilidade está na mao dos próprios seres humanos, pelo menos daqueles seres humanos ainda conscientes dessa realidade.

Esse é outro aspecto a ser analisado mais à frente: um cristao nao tem como objetivo COMBATER qualquer estrutura social, política ou econômica desse mundo, pois o combate traz eventualmente a destruiçao desse sistema, mas necessariamente um outro sistema o substituirá (essa é uma lei na natureza, e o famoso manifesto do Unabomber fala claramente sobre esse mecanismo).

O cristianismo nao pode ser transformado num sistema hermético a ser aplicado diretamente à sociedade. Eu tentei imaginar essa possibilidade e nao consegui. O teólogo Jacques Ellul também elimina essa possibilidade. Dessa forma os utópicos e aqueles que sonham com "um mundo melhor" podem perder desde já as suas esperanças. O mundo precisa de soluçoes reais, nao de ilusoes.

Se um cristao nao pode combater o mal na sociedade, o que ele pode fazer? A resposta é INFLUÊNCIA.

O propósito desse blog é desmistificar a "liderança" a partir do ponto de vista teológico e comprovar que as estruturas de poder sao inerentemente maléficas.

Voltando ao tema guerra... eu nao pude resistir à tentaçao de publicar essa versao da bandeira de Israel. Ela é a mais coerente com a realidade, e o motivo disso vai ser esclarecido nesse blog, ou seja, vamos entender porque Israel se tornou um Estado policial, autoritário e criminoso - como todos os Estados desse mundo foram, sao e serao.