terça-feira, 26 de maio de 2009

[Parte 14] Desejo pelo Poder


"O poder nunca dá um passo para trás — somente diante de mais poder." (Malcolm X)

O motivo de se buscar poder não é o próprio poder em si, não é a vaidade. O verdadeiro motivo é a sensação de SEGURANÇA. Poder traz segurança.

Poder não tem a ver necessariamente com domínio sobre pessoas - o homem também busca dominar a natureza, o ambiente ao redor, as circunstâncias, o futuro... É o PODER sobre essas coisas que o permite ter segurança, ou a sensação de segurança. A segurança só vem por meio do DOMÍNIO. O homem quer ter a certeza de que tudo está sob controle, dominado, que não há nada ameaçador ou desconhecido ao redor.

É por isso que alguém que exerce poder nunca deseja abandonar esse poder, nem mesmo um pouco. Livrar-se do poder significa abandonar a própria SEGURANÇA. As coisas não estarão mais sob o próprio controle. Ninguém, inconscientemente, toma uma decisão como essa; mesmo conscientemente é difícil tomar uma decisão como essa.

"Pôr ou ter sua segurança em Deus" é um termo religioso extremamente falso e enganoso. Deus nunca prometeu segurança. Segurança não existe nesse mundo. O termo "pôr/ter sua segurança em Deus" significa exatamente ABANDONAR a segurança, ou melhor, abandonar a ilusão de uma possível segurança nessa vida. Esse termo significa apenas que uma pessoa se torna realista e desiste de tentar controlar as situações da vida, sabendo que todo esse controle só pode ser exercido verdadeiramente por Deus. E mais ninguém.

O desejo de controlar as situações da própria vida pode ser uma atitude muito óbvia e visível na vida de certas pessoas. Para outras pessoas, essa atitude pode ser mais sutil, difícil de ser notada. Porém ela sempre existe, e sempre é pecaminosa.

O caso extremo desse desejo por poder é o caso do líder. Um líder abandona todo seu escrúpulo. Ele não só declara abertamente que é um dominador e quer controlar as situações ao seu redor, como também quer controlar AS PESSOAS ao seu redor. Os seres humanos, para um líder, não passam de agentes produtores de mudanças (geralmente negativas) que precisam ser controladas, "abafadas" e dirigidas a um objetivo comum e pré-definido que não é naturalmente o objetivo desses indivíduos.

O primeiro passo de um líder deveria ser o reconhecimento da sua fraqueza, da sua incapacidade de controlar ou dominar as situações ao redor - quanto mais dominar pessoas! Uma pessoa sincera faria um esforço e buscaria ajuda para livrar-se desse desejo de domínio. Porém o líder faz o contrário: ele não só busca dominar, como sujeita pessoas ao seu desejo de domínio.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

[Parte 13] Clodovil, ops, Max Weber abre o jogo



Nao pode ser negado, Max Weber está certo: o Estado tem o monopólio sobre o uso legítimo da violência.


Antes de continuar, aqui vai mais uma citaçao:

"Quente é mil grau, o que o guerreiro diz
O promotor é só um homem, Deus é o juiz
Enquanto o zé-povinho apedrejava a cruz
E o canalha fardado cuspia em Jesus
Ó, aos quarenta e cinco do segundo, arrependido
Salvo e perdoado é Dimas, o bandido!"
(Racionais MCs, "Vida Loka parte 2")


Nao pode ser negado, a Bíblia comprova a teoria de Max Weber: quem jogou os amigos de Daniel na fogueirafoi a polícia; quem matou todas as crianças menores de dois anos na Judéia foi a polícia; quem prendeue surrou Paulo foi a polícia; quem matou Tiago à espada foi a polícia; os apóstolos foram presos pelaPolícia; e QUEM SURROU, CRUCIFICOU E MATOU JESUS FOI A POLÍCIA!

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

[Parte 12] Paz! Paz! Paz!


Para deixar a festa completa, vou chamar mais um convidado: John Howard Yoder. Ele nao é O CARA, mas é um DOS CARAS"!

Ele foi aluno de Karl Barth, um dos teólogos mais influentes do século XX. Falarei mais sobre Yoder num outro post. No momento eu posso adiantar que Yoder, com seu fundo menonita, defendeu a teoria de que o universo do governo e o universo da Igreja sao completamente distintos e isolados, e nao podem se misturar. O governo combate o mal (violência) usando o mal (violência). A Igreja nao combate, mas confronta o mal com o bem. O papel da Igreja é ser uma testemunha da Verdade, deixando o "trabalho sujo" para o Estado. Para um cristao vale o Sermao da Montanha.


Com esse raciocínio a resposta sobre o comportamento de um cristao diante do serviço militar já fica automaticamente respondida, mesmo merecendo um post à parte.

Normalmente as pessoas que conhecem a obra de Yoder se concentram mais no seu pacifismo. Porém o pacifismo nao é um movimento ou um objetivo por si só, é apenas um resultado do entendimento de qual é a responsabilidade de um cristao nesse mundo. Sendo testemunhas do Evangelho e da Verdade, um cristao nao pode fazer justiça com as próprias maos, mesmo porque Deus nao quis fazer isso até agora, e nao somos nós que vamos fazer, por mais que haja vontade (da minha parte posso dizer que existe MUITA vontade!).

[Parte 11] O governo e a torre de Babel


Somente depois da parte 10 eu tenho a possibilidade de falar sobre a torre de Babel como sendo uma parábola sobre o governo entre outros.

A empreitada para construir a torre de Babel é um símbolo do esforço coletivo dos seres humanos para subjugar o domínio de Deus sobre o mundo, é um braço-de-ferro espiritual. O homem nao admite a submissao a Deus e a falta de controle; ele tenta criar algo que desafie o próprio Deus, toma nas próprias maos o alvo de evitar o espalhamento da populaçao por toda a terra; mais que isso, deseja construir uma torre que "vá até o céu". (Se alguém perceber alguma semelhança entre esse parágrafo e um capítulo do livro "Palavra de Deus, Palavra dos Homens" de Karl Barth, nao é mera coincidência.)

O mesmo acontece com os sistemas de poder. O ser humano nao é capaz de aceitar a liberdade de viver sua própria vida, de tomar decisoes por si só. Em nome da ordem, da organizaçao e do controle, o ser humano criou uma parafernália chamada Governo. Sem dúvida o Governo traz muita eficiência em alguns campos; por
causa do Governo nós temos sistemas de saúde, de transporte e de educaçao que, mesmo nao sendo perfeitos, oferecem uma opçao razoável ao caos que existia no passado. Podemos dizer que esses sao os pontos positivos do Governo.

Por outro lado, como já vimos na estória sobre Adolf Eichmann, o Governo é uma liderança, e portanto uma TÉCNICA; essa técnica tem o lado positivo e o lado negativo, sendo que um dos lados negativos é o poder da burocracia, da sistematizaçao. Indivíduos se tornam impotentes diante desse poder. Imagino que todo leitor já se sentiu dessa forma pelo menos uma vez na vida. Esse gigante nao pode ser vencido por meros mortais como nós.

O Governo é a torre de Babel moderna. Esse sistema é gigantesco, complexo e evita o caos - ao mesmo tempo em que abandona vários preceitos de Deus e causam muito transtorno para o homem. Nao é à toa que o próprio Satanás resolveu se juntar a essa galera e assumiu o posto de presidente executivo!

[Parte 10] Com vocês: Max Weber! (ou "A Natureza do Governo")

Agora o papo começa a ficar bom.

A tentaçao de Jesus no deserto (Mateus 4) é bastante famosa. Nesse relato há uma pista sobre a verdadeira natureza do governo.

Numa das tentaçoes, Satanás oferece "todos os reinos do mundo, e a glória deles". Ele diz "reinos". Ele diz "todos". Nao há como entender essa passagem de outra forma. Satanás POSSUI todos os reinos, junto com a glória que os segue. A grandeza dos governos, dos poderes humanos, tudo isso está debaixo do poder de Satanás. Com olhos humanos nós vemos apenas estruturas sociais e políticas criadas por seres humanos como nós; com olhos espirituais, nós vemos um sistema demoníaco que desafia o poder de Deus sobre o mundo.

Agora está na hora de apresentar mais um amigo: Max Weber. Weber é considerado o pai da sociologia moderna. Ele escreveu alguns livros bastante interessantes e famosos. Eu vou me ater a uma pequeno trecho escrito por ele, um texto-chave para se entender o Estado à luz do cristianismo.

1) a definiçao verdadeira de "Estado" ou "Governo" nao é a "entidade que organiza a sociedade", mas sim a "entidade que possui o monopólio sobre o uso legítimo de violência". Por definiçao existe uma conexao direta entre o Estado e a violência. O Estado impoe e mantém a ordem à força.

"Hoje porém nós vamos ter que dizer: o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de uma área definida - essa »área« faz parte das características marcantes -, assume para si (com sucesso) o monopólio da violência física legítima. Pois o seguinte é característico do tempo atual: que todas as outras associaçoes ou indivíduos prescrevem para si mesmos o direito ao uso de violência física somente até o ponto em que o Estado, por sua parte, assim o permite. Ele é a única fonte do »direito« ao uso de violência.

»Política« significaria entao para nós: a luta por participaçao no poder ou por influência sobre a distribuiçao de poder, seja entre Estados, seja entre grupos de pessoas dentro de um Estado que os envolve."

("Politik als Beruf" ou "Política como Vocaçao", 1919)

2) o Estado (ou melhor dizendo, cada pessoa que o compoe) nao pode ser cristao no sentido do Sermao da Montanha, porque Jesus condena o uso da violência mesmo quando ela é usada contra nós. A ética do cristianismo nao pode ser usada por aqueles que exercem poder político, pois a política e o cristianismo se contradizem, andam em sentidos opostos. Max Weber diz o seguinte a respeito da discussao em torno da "ética na política":

"»Pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão«, e luta é luta em qualquer lugar. Pois bem: a ética do Sermao da Montanha? Com o Sermao da Montanha - quero dizer, a ética absoluta do Evangelho - a coisa é mais séria do que acreditam aqueles que repetem esse mandamento hoje em dia. Com ela nao se brinca. (...) É assim: é preciso ser um santo em tudo, ou pelo menos ter a vontade de ser; é preciso viver como Jesus, os apóstolos, Sao Francisco e similares; aí sim essa ética faz sentido e expressa honra e valor. Caso contrário, nao. Quando, em conseqüência da ética alienada do amor, essa ética diz: »nao resistir ao mal com violência«, para o político vale a frase oposta: você deve resistir ao mal com violência - se nao, você é responsável caso ele prevalesça."

O Diabo vem "para roubar, matar e destruir". É isso que o Estado faz em nome "da ordem e da segurança da populaçao". O governo usa a violência para combater a violência, ou seja, o mal combate o próprio mal. (A propósito: a frase "SÓ O MAL PODE COMBATER OUTRO MAL" é de Jean-Paul Sartre e merece outro post!)

O mal é inerente ao Estado. Nao interessa se esse Estado se auto-denomina "justo", "democrático" ou "moderno", se ele combate crises econômicas, o analfabetismo, a corrupçao ou o terrorismo. Pelo fato de ser Estado ele é ímpio por natureza. Quando esse Estado inicia guerras, quando ele é dominado por pessoas corruptas, quando ele se torna totalitário, quando ele deixa de cuidar das necessidades básicas da populaçao, ele simplesmente está provocando o mal que faz parte da sua própria natureza. Quando as mulheres e crianças se tornam vítimas, como é o caso dos palestinos durante as açoes do exército israelense nesse início de 2009, ou quando um país é abandonado à hiperinflaçao e à morte através da cólera por causa da mera luta pelo poder, como é a realidade atual no Zimbabwe, quando as crianças sao bombardeadas com napalm, como na guerra do Vietna, ou quando os judeus e outros "indesejáveis" vao parar no forno de um campo de concentraçao, como na Segunda Guerra Mundial, nao é mais do que natural. Essa é a maneira como o Estado mostra as suas garras.

Romanos 13 é um trecho bíblico bastante distorcido. Ele vai precisar de um post extra. Só posso adiantar que uma interpretaçao literal dessa passagem traz consigo enormes contradiçoes diante dos Evangelhos e do restante da Bíblia. Acreditar que a obediência a um governo mau é a vontade de Deus faz os amigos de Daniel se revirarem na cova e, como diz o Mano Brow, "Adolf Hitler sorrir no inferno"!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

[Parte 9] "Propaganda" ou "Hipnose social"

Acho que ninguém gosta da idéia de ser hipnotizado contra a própria vontade. E eu imagino que parece exagerado dizer que tal coisa seja possível. Mas infelizmente é a verdade. Essa hipnose é tao poderosa e tao eficiente que é praticamente impossível livrar-se dela. Essa técnica de hipnose se chama PROPAGANDA.

A propaganda é a técnica usada pelos poderes para impôr a sua maneira de ver a sociedade, o seu comportamento e até mesmo o que deve ser consumido.

Nao é brincadeira nem exagero. Essa técnica foi especialmente desenvolvida no século XX. Aqui eu apresento o segundo parágrafo de uma das "bíblias" da propaganda, escrita pelo "Pai das Relaçoes Públicas", Edward Bernays:

"Nós somos governados, nossas mentes sao moldadas, nossos gostos sao formados e nossas idéias sao sugeridas, em geral, por homens dos quais nós nunca ouvimos falar. Esse é o resultado lógico da maneira como nossa sociedade democrática é organizada. Vastos números de seres humanos precisam cooperar dessa maneira para que nós possamos viver juntos como uma sociedade que funcione harmoniosamente."

Em nome de uma sociedade "organizada" os líderes se colocam na posiçao de "paizinhos conscientes e preocupados". Eles sao os heróis que trabalham enquanto nós dormimos, cuidando para que tudo funcionasse suavemente. Para isso, nossa mentalidade precisa ser educada por eles.

[Parte 8] O "efeito Eichmann"


Antes de ler esse post, eu recomendo que você leia, no mínimo, o que o Wikipedia tem a dizer sobre Hannah Arendt e Adolf Eichmann.

Hannah Arendt, ela mesma judia, causou um escândalo e foi até mesmo excomungada da comunidade judaica por causa do que escreveu no livro "Eichmann em Jerusalem". Adolf Eichmann, considerado o "arquiteto do Holocausto", foi sequestrado pelo serviço secreto israelense na Argentina e levado para Israel, onde foi julgado e executado.

O escândalo do livro tem a ver com a afirmaçao de que os judeus colaboraram com a própria deportaçao durante o nazismo e nao ofereceu qualquer resistência, contribuindo assim para o Holocausto.

Por outro lado, um dos termos marcantes no livro é a chamada "banalidade do mal". Diferente do que se imagina, ou do que a História tenta nos fazer pensar, os nazistas nao eram uma encarnaçao do demônio. Um dos exemplos mais perfeitos é Adolf Eichmann, uma pessoa que, segundo Arendt, mostrou durante o julgamento o seu caráter extremamente comum, medíocre, alguém que só possuiu algum tipo de "brilhantismo" por se dedicar ao aperfeiçoamento de uma parafernália de guerra. A ambiçao de Eichmann em busca de fugir da mediocridade o levou a fazer "um trabalho bem feito", sem consideraçao ao que estava causando às vítimas.

Mesmo que seja difícil de acreditar, Eichmann afirmou o tempo todo que nao tinha qualquer sentimento negativo contra os judeus. Ele mesmo dizia ter lido "O Estado Judeu", de Theodor Herzl (que pode ser chamado de manifesto sionista) e acreditava que o sionismo era algo positivo. Porém, por causa do estado de guerra, Eichmann se sentiu obrigado a "obedecer ordens" e tratar os judeus como inimigos e prisioneiros.

Você deve estar pensando: qual a ligaçao entre Eichmann, Arendt e o tema liderança?

Liderança traz consigo palavras-chave como Organizaçao, Estrutura e Objetivo. O Líder nao passa de um símbolo, um ícone dessa Estrutura, alguém que encorpa a alma da instituiçao. No dia-a-dia o líder nao precisa estar presente, desde que a ideologia esteja bem impregnada nos seguidores e estes estejam determinados a se submeter à Organizaçao. Pois bem: essa era a vida de Eichmann.

Foi exatamente sua entrega à Organizaçao, à Estrutura e aos Objetivos que o tornaram cego diante da realidade. A burocracia, em nome da ordem e da eficiência, elimina o raciocínio e o julgamento próprio; ela é inflexível, e essa inflexibilidade toma conta do caráter dos burocratas. Nada disso acontece de uma só vez, caso contrário o burocrata perceberia o problema e destruiria a estrutura, ou pelo menos se negaria a sustentá-la. Mas a sutileza da burocracia se esconde no processo de APERFEIÇOAMENTO, que acontece muito lentamente. No início Eichmann estava apenas ajudando os judeus a abandonarem um país hostil, sendo que muitos deles estavam partindo para a terra prometida (Palestina). Era quase como um favor a um povo que ele quase admirava. Quando essas deportaçoes passaram a significar a MORTE dos judeus, era tarde demais, e o próprio Eichmann passou a se justificar, acreditando que uma morte rápida seria melhor do que alguma outra opçao qualquer.

Antes que você interprete o texto da forma errada, afirmo desde já: Eichmann nao foi de forma nenhuma inocente. Eu quero somente dizer que o erro básico de Eichmann, como o de milhoes de pessoas durante a História, foi entregar-se de corpo e alma a uma organizaçao em vez de cultivar a sua individualidade e tomar decisoes próprias, conscientes e CORRETAS. As estruturas de liderança simplesmente multiplicam e magnificam as açoes dos indivíduos que a compoem, sejam para o bem, sejam para o mal.

Analisando a questao por um aspecto ligeiramente diferente, há outro nome que eu posso citar: Alfred Adler. Uma das afirmaçoes que me marcou foi quando Adler identificou o oposto do amor nao como sendo o ódio, mas sim a INDIFERENÇA.

O nazismo foi marcado pela INDIFERENÇA com que o ser humano foi tratado: castigado e morto comos meros animais, ou pior. As estruturas de liderança nao permitem a existência de amor, pois o amor só pode ser demonstrado entre indivíduos, particularmente, e nao através de organizaçoes. O objetivo de uma instituiçao nao é amar, mas sim atingir objetivos materiais concretos e de forma EFETIVA - um universo totalmente separado do universo do amor.