quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

[Parte 8] O "efeito Eichmann"


Antes de ler esse post, eu recomendo que você leia, no mínimo, o que o Wikipedia tem a dizer sobre Hannah Arendt e Adolf Eichmann.

Hannah Arendt, ela mesma judia, causou um escândalo e foi até mesmo excomungada da comunidade judaica por causa do que escreveu no livro "Eichmann em Jerusalem". Adolf Eichmann, considerado o "arquiteto do Holocausto", foi sequestrado pelo serviço secreto israelense na Argentina e levado para Israel, onde foi julgado e executado.

O escândalo do livro tem a ver com a afirmaçao de que os judeus colaboraram com a própria deportaçao durante o nazismo e nao ofereceu qualquer resistência, contribuindo assim para o Holocausto.

Por outro lado, um dos termos marcantes no livro é a chamada "banalidade do mal". Diferente do que se imagina, ou do que a História tenta nos fazer pensar, os nazistas nao eram uma encarnaçao do demônio. Um dos exemplos mais perfeitos é Adolf Eichmann, uma pessoa que, segundo Arendt, mostrou durante o julgamento o seu caráter extremamente comum, medíocre, alguém que só possuiu algum tipo de "brilhantismo" por se dedicar ao aperfeiçoamento de uma parafernália de guerra. A ambiçao de Eichmann em busca de fugir da mediocridade o levou a fazer "um trabalho bem feito", sem consideraçao ao que estava causando às vítimas.

Mesmo que seja difícil de acreditar, Eichmann afirmou o tempo todo que nao tinha qualquer sentimento negativo contra os judeus. Ele mesmo dizia ter lido "O Estado Judeu", de Theodor Herzl (que pode ser chamado de manifesto sionista) e acreditava que o sionismo era algo positivo. Porém, por causa do estado de guerra, Eichmann se sentiu obrigado a "obedecer ordens" e tratar os judeus como inimigos e prisioneiros.

Você deve estar pensando: qual a ligaçao entre Eichmann, Arendt e o tema liderança?

Liderança traz consigo palavras-chave como Organizaçao, Estrutura e Objetivo. O Líder nao passa de um símbolo, um ícone dessa Estrutura, alguém que encorpa a alma da instituiçao. No dia-a-dia o líder nao precisa estar presente, desde que a ideologia esteja bem impregnada nos seguidores e estes estejam determinados a se submeter à Organizaçao. Pois bem: essa era a vida de Eichmann.

Foi exatamente sua entrega à Organizaçao, à Estrutura e aos Objetivos que o tornaram cego diante da realidade. A burocracia, em nome da ordem e da eficiência, elimina o raciocínio e o julgamento próprio; ela é inflexível, e essa inflexibilidade toma conta do caráter dos burocratas. Nada disso acontece de uma só vez, caso contrário o burocrata perceberia o problema e destruiria a estrutura, ou pelo menos se negaria a sustentá-la. Mas a sutileza da burocracia se esconde no processo de APERFEIÇOAMENTO, que acontece muito lentamente. No início Eichmann estava apenas ajudando os judeus a abandonarem um país hostil, sendo que muitos deles estavam partindo para a terra prometida (Palestina). Era quase como um favor a um povo que ele quase admirava. Quando essas deportaçoes passaram a significar a MORTE dos judeus, era tarde demais, e o próprio Eichmann passou a se justificar, acreditando que uma morte rápida seria melhor do que alguma outra opçao qualquer.

Antes que você interprete o texto da forma errada, afirmo desde já: Eichmann nao foi de forma nenhuma inocente. Eu quero somente dizer que o erro básico de Eichmann, como o de milhoes de pessoas durante a História, foi entregar-se de corpo e alma a uma organizaçao em vez de cultivar a sua individualidade e tomar decisoes próprias, conscientes e CORRETAS. As estruturas de liderança simplesmente multiplicam e magnificam as açoes dos indivíduos que a compoem, sejam para o bem, sejam para o mal.

Analisando a questao por um aspecto ligeiramente diferente, há outro nome que eu posso citar: Alfred Adler. Uma das afirmaçoes que me marcou foi quando Adler identificou o oposto do amor nao como sendo o ódio, mas sim a INDIFERENÇA.

O nazismo foi marcado pela INDIFERENÇA com que o ser humano foi tratado: castigado e morto comos meros animais, ou pior. As estruturas de liderança nao permitem a existência de amor, pois o amor só pode ser demonstrado entre indivíduos, particularmente, e nao através de organizaçoes. O objetivo de uma instituiçao nao é amar, mas sim atingir objetivos materiais concretos e de forma EFETIVA - um universo totalmente separado do universo do amor.

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